Por: Frei Monízio Campos é Franciscano e Santoantoniense
Conta-se que, naquela tarde, depois de ter enfrentado as águas barrentas do tempo de cheia do caudaloso Rio Cuiabá, aquelas embarcações que seguiam rio acima foram levadas às margens do rio para que seus ocupantes pudessem descansar da “luta” com o Cuiabá e com os índios canoeiros da tribo Guató.
No dia seguinte, um dos barcos estava preso e não saía do lugar, atrasando a continuidade da viagem. Nesse barco estava uma imagem de Santo Antônio de Pádua, que deveria seguir adiante, mas resolveu ficar por ali.
Depois de várias tentativas frustradas de soltar o barco para seguir viagem, optaram por descer os apetrechos, colocando-os em terra firme. Só depois de tirar a imagem, o barco se desprendeu. Ávidos para chegar ao destino, resolveram então deixar a imagem do santo que, tempos depois, precisou reafirmar sua permanência no local, quando quiseram levá-lo novamente. Construíram então, no lugar, uma capela e ao seu redor foram se ajuntando moradores, os primeiros representantes da cidade menina.
É isso o que resumidamente sabemos. Mas, e da vida deste nosso padroeiro, deste ilustre franciscano que junto de Deus olha e intercede por nós, o que sabemos?
Fernando de Bulhões nasceu no dia 15 de agosto de 1191, em Lisboa, Portugal. Seus pais, Martinho de Bulhões e Tereza Taveira, souberam perfeitamente trabalhar na educação do filho. Estudante esforçado e íntegro na fé, aos 15 anos entrou para a Congregação dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho.
Terminados seus anos de estudos, foi ordenado. Certo dia, Padre Fernando acolheu no convento alguns frades franciscanos que estavam indo em missão para Marrocos. Ficou entusiasmado com a decisão dos frades de ir evangelizar em terras distantes. Os frades partiram e Padre Fernando ficou cultivando aquele pensamento.
Dias depois, soube que aqueles frades acabaram sendo mortos pelos que não aceitaram ouvir falar de Jesus e isto mexeu mais ainda com o jovem sacerdote. Querendo doar mais ainda sua vida, Padre Fernando decide, em 1220, deixar a Congregação e entrar para a Ordem dos Frades Menores: tomou o hábito franciscano, cingiu-se com o cordão e adotou o nome de Frei Antônio. Não hesitou, e logo foi em missão para Marrocos, mas uma doença o fez retornar a Portugal.
No caminho (em vez de uma parada para descanso, como fez no Rio Cuiabá), uma tempestade acabou desviando o navio para a Itália. Nosso padroeiro era extremamente estudioso das Sagradas Escrituras, falava com maestria e profundidade das verdades da vida de Jesus. No convento franciscano, começou ocupando-se dos serviços da cozinha, até que, num certo dia, durante um importante encontro entre os frades, o pregador oficial faltou. E agora, a quem recorrer? Como muitos frades recusaram o encargo, o guardião convidou então que o frade da cozinha o fizesse. Ele aceitou. Qual surpresa tiveram quando o frade começou a falar! Suas palavras doces e acalentadoras tocavam o coração. Surpreendeu seus confrades, deixando todos maravilhados.
Daí em diante, frei Antônio começou a viajar e a pregar o Evangelho, trazendo sempre no coração o desejo de doar sua vida como fizeram aqueles frades que conhecera outrora. E era um pregador destemido, mostrava que até uma mula tem mais fé do que um homem de coração indeciso, e quando as pessoas não queriam escutá-lo, ele pregava aos peixes.
O próprio São Francisco de Assis pediu a frei Antônio que ensinasse a Sagrada Teologia aos seus confrades. A profundidade dos seus textos doutrinários fez com que, em 1946, fosse declarado Doutor da Igreja.
É conhecido como Santo Antônio de Lisboa e de Pádua, pois nasceu em Lisboa e morreu em Pádua. É um dos santos mais populares do mundo. Padroeiro dos pobres e com fama de casamenteiro, é invocado também para o encontro de objetos perdidos. Mas Santo Antônio não deve ser lembrado somente pelos milagres, mas, principalmente, por seu modelo de vida. Foi homem simples, sempre atento às coisas de Deus, amigo de todos, e até hoje nos aproxima de Jesus.
Ele não é um deus, não o idolatramos, mas o veneramos. É uma pessoa como nós, que nasceu e viveu buscando fazer a vontade de Deus. Por isso está nos céus e intercede por nós. Deus de lá também nos ouve. Santo Antônio só informa os casos especiais, e se mostra exemplo de que tudo podemos n’Aquele que nos dá força.
Frei Antônio não chegou a sofrer o martírio como aqueles frades missionários de Marrocos. Foi mártir no desejo. Morreu com 36 anos, quando estava a caminho de Pádua, em 13 de junho de 1231. Foi canonizado em tempo recorde, aos 13 de maio de 1232, apenas 11 meses depois de sua morte, pelo papa Gregório IX. Sobre seu túmulo, em Pádua, foi construída uma basílica a ele dedicada. Na memória da emancipação de nossa cidade, recordamos a emancipação de toda uma vida vivida para Deus.
"Uma água turva e agitada não espelha a face de quem sobre ela se debruça. Se queres que a face de Cristo, que te protege, se espelhe em ti, sai do tumulto das coisas exteriores, seja tranqüila a tua alma."
Santo Antônio
Frei Monízio Campos, OFM.
Franciscano e Santoantoniense.
Licenciado em Filosofia, bacharelando em Teologia. Reside em Petrópolis-RJ.
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